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LUZ, CÂMERA, AÇÃO

Leia a resenha de "O Sétimo Selo", filme que aborda a peste negra no século XIV

Nesta edição do quadro "Luz, Câmera, Ação", o escritor Felipe Figueira traz um clássico do cineasta sueco Ingmar Bergman.

Publicado em 24/03/2024 às 15:00
Atualizado em

(Foto: Reprodução|)

Nesta edição do quadro "Luz, Câmera, Ação", o professor e escritor Felipe Figueira fala sobre o filme “O Sétimo Selo".


Por Felipe Figueira

“O Sétimo Selo”, de Ingmar Bergman, é um filme de 1957 que tem como contexto a Suécia do século XIV, devastada pela peste negra. O que é interessante é que Bergman escolhe um período remoto na história, mas, cujos temas têm profunda relação com a contemporaneidade, seja a de 1957 ou a de 2024, afinal, o medo da morte, o medo do fim dos tempos e a ameaça de uma peste são situações atemporais.

A película de Bergman tem duas histórias que se cruzam. Primeira, a do cavaleiro medieval Antonius Block (Max von Sydow), que vinha da cruzada para recuperar Jerusalém dos muçulmanos, em companhia do escudeiro Jöns (Gunnar Björnstrand), e segunda, a dos artistas Jonas Skat, Mia e Joseph. Logo no início do filme, o cavaleiro encontra com a Morte (Bengt Ekerot), vestida de preto, e, para não ter a vida ceifada abruptamente, lhe propõe uma partida de xadrez. A imagem da morte jogando xadrez é uma das mais belas e paradigmáticas da história do cinema.


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Em “O Sétimo Selo” aparecem temas caros à filmografia de Bergman, tais como: a morte, o desamparo, culpas, Deus, o medo, o vazio e conflitos familiares. Quanto à morte, a Morte caminha ao lado de todos; quanto ao desamparo, os personagens procuram Deus ou um refúgio espiritual, mas não encontram; sobre a culpa, a peste que assolava era considerada um castigo divino (ao que debochava Jöns); e quanto aos conflitos familiares, há traições e brigas de casal. A quem julgar Bergman repetitivo, que vá além e pense que há temas estruturais à humanidade e que explorá-los é sinônimo de seriedade. Às vezes Bergman não é visto, ou não é bem-visto, por ser demasiado sério.

Uma imagem importante a ser trazida a esse texto é que Block e Jöns formam uma parceria semelhante à de Dom Quixote e Sancho Pança. Block é um idealista, que joga xadrez com a morte, já Jöns vive no real, resolvendo problemas cotidianos. Porém, à diferença de Dom Quixote, o cavaleiro de Bergman não se expressa tanto por palavras. Este “não se expressa” não significa marginalidade, mas, um modo diferente de se portar diante da vida, ou, no caso, diante da morte.

Conforme a história segue, mais o fim de Antonius Block se aproxima, pois a Morte é uma grande-mestra em dar xeque-mates. O cavaleiro sabe que não vencerá o “último inimigo”, conforme caracteriza a Bíblia (1 Cor 15:26), mas queria adiar o seu fim. É interessante citar a bíblia, pois é do Apocalipse que Bergman extrai o título para o filme: “E, havendo aberto o sétimo selo, fez-se silêncio no céu quase por meia hora.” (AP 8:1). Esse trecho é dito no início do filme e em seu decorrer, dando o tom à seriedade que a obra retrata.

“O Sétimo Selo” é um filme que trabalha com esmero a Suécia do século XIV, conforme mencionado, mas, por meio de seus sensíveis diálogos, é impossível quem o assiste não se identificar com o personagem. Por causa dessa aproximação é que se sente a angústia do inevitável xeque-mate dado pela morte.


Onde assistir? Youtube. Tempo de duração: 1h36 minutos. Classificação indicativa: 12 anos.

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