Portal da Cidade Paranavaí

LUZ, CÂMERA, AÇÃO

Gosta de cinema? Leia a resenha do filme "Arthur e o Infinito"

Nesta edição do quadro "Luz, Câmera, Ação", a temática do filme é o autismo, evidenciada por meio de um garoto.

Publicado em 14/04/2024 às 15:37
Atualizado em

(Foto: re)

Nesta edição do quadro "Luz, Câmera, Ação", o professor e escritor Felipe Figueira fala sobre o filme “Arthur e o Infinito".


Por Felipe Figueira

“Arthur e o infinito” é um filme curto, de apenas 36 minutos, dirigido por Julia Rufino, mas que tem o poder de ser grande, de mexer com quem o assiste. A temática é o autismo, evidenciada por meio de um garoto, Arthur (Eric Schon), de cerca de oito anos, e de como que os pais vivenciam essa situação.

A primeira cena da película chama a atenção, pois mostra os pais, Marina (Maria Tuca Fanchin) e César (Roberto Skora) recebendo do médico a notícia de que o filho é autista. César questiona se isso é um “problema”, ao que o médico, sabiamente, diz que problema seria, por exemplo, o diagnóstico de diabetes, já o autismo é ter uma “mente diferente”. O que o filme visa é formar uma mente aberta para uma temática tão complexa, e isso ele faz com louvor.

O que se revela ao longo da obra é um luto contínuo dos pais após receberem a respectiva notícia. O luto não se dá apenas quando um ente querido morre ou quando há uma separação, mas também quando uma pretensa (ou esperada) normalidade/rotina é estilhaçada. Por mais problemático que seja, os pais esperam certos comportamentos dos filhos – uma “normalidade”, aqui, entre aspas -, mas, no caso de uma criança autista, isso não é possível. Há comportamentos de quem possui o Transtorno do Espectro Autista (TEA) que não existem em outras crianças. Diana Hudson (2019, p. 128-129), no livro “Dificuldades Específicas de Aprendizagem”, traz alguns deles:

Discurso: A fala do aluno geralmente é monocórdica e carente de inflexão. Usa pouco o jargão do grupo de colegas, ou usa de forma inadequada. Fala detalhadamente sobre um tema de interesse.

Conversação: Não sabe quando começar ou parar de falar. Interpretação muito literal de palavras e frases. Acha difícil entender piadas ou trocadilhos. Acha as reações das pessoas imprevisíveis e confusas.

Interação social: Alunos com TEA podem considerar outras pessoas confusas e imprevisíveis, pois acham difícil entender as normas sociais e padrões de comportamento informais.

Contudo, apesar do referido luto, a família, em especial a mãe, não se resigna, mas se põe a trabalhar em prol do menino. Ela vai atrás de especialistas e ela própria pesquisa sobre o assunto. Mas, em meio a essa difícil jornada, o que não faltam são desafios, como é possível contemplar por meio dos diálogos com a filha, Sofia (Giovana Fonseca), uma garota de aproximadamente 10 anos que se sentia abandonada pela mãe, e, depois, em um desabafo feito à sua genitora.

“Marina: Filha, não fica brava comigo. Você entende que não é por mal.

Sofia: Mas não é justo.

Marina: Eu sei, mas você precisa ter paciência. Você é uma menina inteligente. Você entende o que eu estou falando, não entende?

Sofia: Se vocês gostam mais dele, fala logo, não mente para mim.

Marina: Não fala isso, hein! Olha aqui. Eu gosto de vocês do mesmo tanto, mas o seu irmão é uma criança especial, ele precisa de ajuda. Você consegue fazer as suas coisas sozinha. Isso é bom para você.”

E o desabafo dirigido à genitora: “Eu me sinto muito sozinha. No começo a única coisa que eu fazia era fingir que nada estava acontecendo, ignorar, mas isso me matava por dentro. Eu sabia que ele precisava de ajuda, mãe, eu fui atrás, mas... Sabe o que eu senti? Pode ser terrível isso que eu vou dizer, pode ser bobagem, mas é como se a minha vida tivesse parado para a dele poder continuar.”

 Outra situação narrada no filme é que Marina se questiona se ela é culpada, se ela fez alguma coisa errada na vida para que o filho nascesse com autismo. Essa hipótese pode parecer absurda, mas não é, seja porque esse questionamento possui um longo registro anterior (na Bíblia, em João 9, questionam Jesus se o homem nasceu cego por pecado dos pais), seja porque a mente humana é sujeita a todo tipo de angústia.

Por fim, e isso é fundamental, é importante existir uma rede de apoio, familiar, social e por parte do Estado, para que pais e pessoas com autismo possam receber ajuda. Essa rede deve se estender para as mais diversas deficiências, para que o capacitismo (preconceito às pessoas com deficiência) seja minorado e, idealmente, extinguido.


Onde assistir? Youtube. Tempo de duração: 36 minutos. Classificação indicativa: livre.

Fonte:

Deixe seu comentário