Por Edson Godinho, especial para o Portal da Cidade
O cinema, durante anos, escreveu histórias muito similares às que vivemos nestes dias. Mas este texto não tratará sugestões de filmes apocalípticos, muito pelo contrário, vamos falar de filmes com outras possibilidades, que não as nossas atuais. Já que estamos todos reclusos, nada melhor que o próprio cinema para nos levar a outros lugares, dimensões e propiciar viagens sem nenhum deslocamento.
Caso sua quarentena seja compartilhada com a família, ótimo, vocês podem aproveitar esse momento juntos, assistir bons filmes, conversar sobre eles e colocarem em dia hábitos um tanto quanto distantes atualmente. Por exemplo, o de compartilhar a presença física de quem se ama. Mas se sua família, namorado, namorada e/ ou amigos estiverem longe, vocês podem compartilhar o mesmo filme e depois debater sobre durante uma chamada de vídeo. O cinema também nos ensinou que o amor sempre vence, não é mesmo?
Confira aqui a lista de sete filmes disponíveis na Netflix para esses dias solitários (mas não muito) que só estão começando:
1 – A viagem de Chihiro (Hayao Miyazaki / 2001) Classificação indicativa LIVRE
Permita-se uma viagem sutil e delicada por camadas mais densas do seu eu. A animação do aclamado Hayao Miyazaki, percorreu o mundo contando a história de uma garotinha destemida, que está conectada com os dois mundos, o físico e o metafísico. Este foi o primeiro filme de Hayao a ganhar um Oscar, e também a primeira animação japonesa a receber tal premiação. Miyazaki é um gênio, não só da animação japonesa, mas sim mundial. Em seu trabalho resgata lendas do Japão antigo e imperial, e traz à tona toda a magia e misticidade dos originários. Caso você se encante com Chihiro e o trabalho de Hayao, também estão disponíveis no streaming outros títulos do diretor: Meu amigo Totoro; O Castelo no Céu; O Serviço de entregas Kiki; Proco Rosso; Pincesa Mononoke; Nausicaä e O Castelo Cagliostro. Caso você já conheça o trabalho do autor, sempre vale a pena assistir bons filmes, principalmente os que nos conectam a lugares tão suaves do nosso ser, ainda mais em tempos tão brutos.
2 – Tudo para Ficar com ele (Roger Kumble / 2002) Classificação indicativa 16 anos
Esse é um filme essencialmente para rir, Roger Kumble consegue imprimir de maneira muito divertida aflições recorrentes na vida de muitos solteiros. E neste longa criou um mantar: “é grande pra caber aqui? Aqui? Aqui, aqui?”
Cameron Diaz é dona de um brilho único, que blinda ela contra qualquer homem, mas no dia em que realmente se apaixona essa proteção cai por terra. Fato é que, o novo amor de Christina Walters (Cameron Diz) vai se casar, mas esse não é um problema para ela e suas amigas, que seguem uma viagem louca para garantir o final feliz de Christina.
Para mais informações favor assistir esse longa metragem, incrível, simples e divertido. E já que estamos aqui, eu também indico o clássico do blockbuster noventista, com direção do mesmo Roger Kumble: "Segundas intenções". O filme, de 1999, traz Reese Witherspoon no começo de sua bem sucedida carreira, em cenas provocantes. Sarah Michelle Gellar capetosissíma em um personagem pra lá de vilanesco. Destaque também para a trilha sonora, divinamente do século passado – diga-se de passagem bem mais romântico que esse - com faixas de: Placebo; Blur; The Verve; Fatboy Slim; entre outros. "Segundas intenções" não está disponível no Netflix, mas vale uma pesquisa pela internet para assisti-lo.
3 – Curtindo a Vida adoidado (John Hughes / 1986) Classificação indicativa 12 anos
Na categoria clássicos, ou como melhor define o Telecine Cult, Novos Clássicos indico “Curtindo a Vida adoidado”, que é um mega sucesso dos anos 80. Tenho certeza que trará um sentimento muito bom a todos nesse período de isolamento, não só pelo filme ser bem humorado e dinâmico, mas por resgatar um sentimento de um lugar mais gostoso de se viver. Talvez para alguns seja a primeira vez com o filme, já para outros a milésima vez. Este longa tem algo que nos traz a segurança e tranquilidade da nostalgia da “Sessão da tarde”.
Ferris desenvolve um meticuloso, ou não, plano para não ir à escola e aproveitar a vida com seu melhor amigo e namorada... Daí pra frente tudo é possível.
O diretor do longa John Hughes é uma espécie de hit maker do cinema norte americano dos anos 80 e 90. Eu indicara “O Clube dos Cinco” se estivesse disponível na Netflix, já que, na minha opinião, é a obra prima de Hughes. Ademais de ser um filme que fala sobre confinamento, no qual cinco jovens totalmente distinto são obrigados a ficar na biblioteca do colégio em um sábado, como penitencia.
Vale muito a pena procurar outros meios de ver este clássico, denso e ao mesmo tempo com um frescor juvenil inigualável. Outros grandes sucessos do diretor são: A Garota de Rosa Choking; Gatinhas e Gatões; Mulher Nota Mil; essa primeira safra dos anos 80. E nos 90: As sequências de Esqueceram de Mim; entre outros.
4 – 10 Coisas que eu odeio em você (Gil Junger / 1999) Classificação indicativa 12 anos
Neste mês de março “10 Coisas que eu odeio em você” completa 21 anos de lançamento. Foi, com certeza, uma das comédias românticas do final dos anos 90 mais aclamadas. E também a mola propulsora nas carreiras de Julia Stiles e Heath Ledger. O roteiro é baseado na obra original de William Shakespeare: The Taming of the Shrew – A Megera Domada.
Enfim, “10 Coisas” é um filme fofo, que também nos traz sentimentos que ficaram no século passado, por exemplo, uma vida mais presencial, sem tantos aparatos tecnológicos. Uma dica é assistir o filme com o mozão, tentem também fazer uma sessão em vídeo conferência caso seus respectivos não estejam em quarentena nos mesmos metros quadrados que você.
Um dos pontos fortes do filme também é a trilha sonora, total bubble gum, dentre todas as bandinhas que compõem as tracks eu indico “Letters to Cleo”, para vocês escutarem sem nenhuma pretensão.
5 – Simplesmente Amor (Richard Curtis / 2003) Classificação indicativa 16 anos
Histórias diferentes se conectam neste auto de natal moderno. O filme é lindo, delicado, trata do amor em muitas dimensões e sensações. Pode ser considerado um dos clássicos românticos deste século. O longa metragem destaca a cultura inglesa e a estrutura do amor nesse contexto.
Muitas carinhas conhecidas estão presentes no longa: Hugh Grant; Keira Knightley; Liam Neeson; Colin Firth; Emma Thopson; Rodrigo Santoro; Claudia Schiffer; entre ouros.
A trilha sonora deste filme, também é de se destacar, nomes como: Dido; Norah Jones; Joni Mitchell; The Beach Boys; Marron Five marcam presença. As tracks também inclui uma versão pra lá de encantadora de “All I Want For Christmas Is You”, original de Mariah Carey, na voz de Olivia Olson com algumas escalas vocais de Beyonce.
Não estamos no Natal, mas sempre é tempo de amar. Inclusive este filme traz uma experiência com o Natal que parece ter acabado na primeira década do século: o amor coletivo e as demonstrações de afeto diárias. Pode ser uma ilusão também, mas vale repensar algumas práticas sobre o amor nessa quarentena.
6 – História de um casamento (Noah Baumbach / 2019) Classificação indicativa 14 anos
Nem todo amor dá certo, ou não no ponto de vista irreal. Em “História de um casamento” original Netflix, Noah Baubach apresenta uma história real, a de um casamento que está por acabar. As atuações de Scarlett Johansson e Adam Driver são brilhantes. Destaque também para o trabalho de Laura Dern, que ganhou: o Oscar de melhor atriz coadjuvante; o Critics Choice Award, o BAFTA, o Globo de Ouro, National Society of Film Critics Award, New York Film Critics Circle, todos na mesma categoria. O filme também recebeu prêmios em outros âmbitos, mas devemos considerar que 2019 foi de fato o ano de Parasita e Joker nas premiações.
História de um casamento é emocionante e reflexivo. Nos leva a encarar que amores podem acabar, outros recomeçar e relações se reconfigurar. Já que falamos de Noah Baumbach também indico de sua autoria: Frances Ha, filme de 2012, praticamente um guia dos trintões vindos dos anos 80. O filme não está disponível no catálogo da Netflix, mas vale uma busca mais aprofundada pela internet.
7 - O Conto da princesa Kaguya (Isao Takahata / 2015) Classificação indicativa LIVRE
Encerro minhas indicações com outra animação, a também japonesa “O Conto da princesa Kaguya”, que narra a história de uma menina nascida do broto do bambu. Tal acontecimento muda a vida de um casal idoso de campesinos, que passa a criar a menina como filha. Este filme também retrata as lendas e misticismos do Japão antigo, é delicado, astuto e firme, uma vez que a lenda propõe uma discussão sobre a própria integridade da humanidade.
Sobre o autor
Edson Godinho mora em Paranavaí, é Artista Visual, nas áreas plástico, vídeo e corpo. É filmmaker, entusiasta, performer e professor.
