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LUZ, CÂMERA, AÇÃO

Gosta de cinema? Confira a resenha do filme "Parasita"

Nesta edição do quadro "Luz, Câmera, Ação", o professor e escritor Felipe Figueira traz o filme vencedor do Oscar.

Publicado em 07/04/2024 às 13:00
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(Foto: Reprodução )

Em 2019 assisti ao filme sul-coreano “Parasita”, de Bong Joon-ho, lançado naquele mesmo ano, e ocorreu algo que raramente se dá: uma vinculação tão forte em relação à obra que comprei o dvd e assisti ao filme uma dezena de vezes desde então. A expressão “clássico instantâneo” é um perigoso clichê que evito usar, preferindo “filme fantástico” ou “filme poderoso”.

E qual o enredo de “Parasita”? Duas famílias se entranham e se estranham: de um lado, a família riquíssima do Senhor Park Don-ik, e do outro a miserável do Senhor Kim Ki-Taek. Ao mesmo tempo se vê um enredo trágico, pois há uma luta de classes dolorosa, em que as desigualdades sociais sul-coreanas são expostas, mas também episódios cômicos, por meio de um humor que, ao mesmo tempo que diverte e envolve, é perverso.

 A família do Senhor Kim morava em um nojento porão, já a do Senhor Park em uma mansão que se assemelhava a uma obra de arte pensada em todos os detalhes e comodidades. As residências tornam-se, elas próprias, personagens importantes. Se em uma casa as pessoas dividem o espaço com baratas e percevejos, na outra os carros de luxo e o jardim se impõem.

 O interessante em “Parasita” é que aos poucos a família do Senhor Kim passa a ocupar todos os postos de trabalho na mansão. Há fases: 1ª Ki-woo, que será conhecido por Professor Kevin, torna-se professor de inglês; 2ª Ki-jung, chamada de Jessica, será professora de arte; 3ª Ki-Taek será o motorista da imponente Mercedes-Benz; e 4ª Chung-sook torna-se a governanta. Em cada fase há um desfile infindável de trapaças, pois ninguém é o que diz aos patrões: tudo é teatro e trapaça. Em tudo isso há o humor tétrico da obra.

 Apesar de todos estarem na casa dos magnatas, eles não perdem por suas origens, que são representadas, em grande medida, pelo cheiro de todos, a ponto do caçula da família Park, Da-song, dizer que “o cheiro de todos eles é igual”. Esse cheiro é também sentido pela senhora Yeon-Kyo, a atrapalhada dona da casa, e por Don-ik, o Senhor Park; a única que não sente é a menina que tinha aula de inglês com Ki-woo, no caso, Da-hye. Os momentos em que os ricos têm nojo dos pobres recebem destaque e têm frases de impacto por parte de Don-ik: “pano de prato”, “rabanete velho” e “gente que anda no metrô tem um cheiro diferente”. Eu próprio tomei contato com uma história de dois garotos ricos que, ao passarem por uma loja popular, disseram um ao outro:

“- Está sentindo?

- O que?

- Cheiro de pobre.”

 Outro aspecto que ganha força em “Parasita” é quando despenca uma chuva torrencial. Para os ricos, a chuva foi uma bênção e sinônimo de conforto, mas, para os pobres da família do Senhor Kim, foi uma tormenta, a ponto do porão em que habitavam ter sido completamente alagado. Se uns permaneceram na confortável casa, outros tiveram que ir para um abrigo.

 Só que “Parasita” consegue ir ainda mais fundo, a ponto de que por trás dos parasitas visíveis existiam outros invisíveis, quais sejam, a governanta anterior e o seu marido que em tudo lhe era dependente. O que se percebe, como bem mostra o filme “O Poço” (2019), que há sempre um degrau abaixo na escola social. A tragédia é plural.

 E como termina a obra sul-coreana? Em uma festa, algo que combina com um filme que caminha entre o trágico e o cômico. Mas, o que é evidente, não se tratará de uma festa ordinária, ou, até será uma festa comum, porém, como o caos faz parte da vida da família parasita, a festa terá peculiaridades. O fato é que mesmo quando a festa termina, a mansão, que é uma importante personagem, não cessa de aparecer e de dominar certas pessoas, certos parasitas.


"Parasita" está disponível na HBO. Tempo de duração: 2h12. Classificação indicativa: 16 anos.

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