O tamanho das porções de comida servidas em restaurantes
populares contribui para o aumento da obesidade. A conclusão é de um estudo que
pesou e mediu o valor calórico de uma refeição completa, em cinco países:
Brasil, China, Finlândia, Gana e Índia. Excetuando a refeição chinesa, o volume
calórico por prato feito (PF), como se diz no Brasil, chega a ser, em média,
33% maior do que a de um lanche de fast food (comida rápida).
consumo das porções servidas em restaurante populares
fornece entre 70% e 120% das necessidades calóricas diárias para uma mulher
sedentária, cerca de 2 mil quilocalorias (kcal).
“Os profissionais da área da saúde que lidam com pessoas
obesas estão muito preocupados em orientar a população para não comer fast
food, mas, na hora que vai ver a refeição completa, ela também está exagerada”,
afirma a pesquisadora brasileira Vivian Suen, do Departamento de Clínica Médica
da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP).
O trabalho, coordenado pela Tufts University e com o apoio da Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), foi publicado no British
Medical Journal.
Na média, os fast foods ofereciam refeições com
809 calorias, enquanto as servidas à la carte (que constam do cardápio),
1.317 kcal. A pesquisadora alerta que o resultado não indica que o fast
food é uma refeição mais saudável, pois não foi analisado cada nutriente,
mas chama a atenção para o PF, que poderia ser uma refeição equilibrada e que,
na verdade, está contribuindo para o ganho de peso.
lém da quantidade de comida oferecida pelos restaurantes em
uma única refeição, também foram percebidos preparos que fazem aumentar o ganho
calórico. Vivian cita como exemplo o arroz, que comumente está brilhante,
indicando cozimento com excesso de óleo.
“O estudo não focou na qualidade, mas podemos dizer que tanto no aspecto
quantitativo quanto no qualitativo, essa alimentação não é saudável. Precisa
prestar atenção nesse prato feito, que é uma refeição completa, mas que não
está sendo saudável”, alertou. Os dados mostram que 94% os pratos à la
carte e 72% dos servidos em fast foods continham mais de 600
kcal, mais que o consumo energético por refeição recomendado pelo Sistema de
Saúde Pública da Inglaterra (NHS).
O estudo mediu as calorias de 223 amostras de pratos
populares e de 111 refeições escolhidas aleatoriamente à la carte e
de fast foods de restaurantes de Ribeirão Perto (Brasil), Pequim
(China), Kuopio (Finlândia), Acra (Gana) e Bangalore (Índia). Eram considerados
restaurantes que ficam a um raio 25 qiuilômetros de cada centros de pesquisa.
Conforme as medições, o tradicional PF brasileiro, com arroz, feijão, frango,
mandioca, salada e pão, tem 841 gramas e 1.656 kcal. O clássico ganês fufu,
com carne de bode e sopa, tem 1.105 gramas e 1.151 kcal. O típico prato indiano biryani de
carneiro tem 1.012 gramas e 1.463 kcal.
Organismo resiste
A obesidade é considerada uma epidemia global pela OMS.
Estima-se que 1,9 bilhão de adultos tenham sobrepeso, dos quais 600 milhões
estão obesos. “Diabetes, colesterol aumentado, aumento do triglicerídeos,
pressão alta, tudo isso que a gente sabe que acompanha a obesidade quando ela
se torna uma doença crônica”, destaca Vivian.
A pesquisadora explica que as porções exageradas têm efeito
no chamado mecanismo compensatório. “São pessoas que não conseguem compensar
numa refeição seguinte o que ela comeu antes. O organismo do obeso desenvolve
defesas contra perda de peso." Segundo Vivian, a pessoa obesa
perderia a percepção para regular a quantidade de comida necessária para a
refeição subsequente.
Outro problema é que o organismo de pessoas obesas cria
resistência à perda de peso. De acordo com a pesquisadora, que há casos
descritos na literatura médica em que, à medida que se reduz a ingestão
calórica, a pessoa em tratamento começa a gastar menos calorias. “Parece que o
organismo, a partir de certo peso, tenta manter o peso que tinha antes. Ninguém
sabe explicar ainda como é que isso realmente funciona.”
Vivian diz que o melhor é prevenir o ganho de peso. “Se você
vai a um desses restaurantes em que a porção é excessiva, divida. Não coma
tudo. E tente, dentro daquilo que existe disponível, escolher as opções mais
saudáveis. Depois que a pessoa ganha peso é muito difícil perder”, recomenda a
pesquisadora, que aconselha ainda mudanças no ato de comer, como mastigar
devagar e dar mordidas menores na comida.