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Força tarefa

Perita do Paraná detalha trabalho nos resgates de Brumadinho

Patrícia Doubas Cancelier, passou sete dias na linha de frente da identificação dos corpos resgatados no mar de lama e rejeitos m Brumadinho, Minas Gerais.

Publicado em 14/02/2019 às 00:16
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Patrícia fez parte da equipe de peritos criminais que atendeu os primeiros dias no local do desastre. (Foto: AEN)

(Foto: AEN)

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A perita criminal Patrícia Doubas Cancelier, da Polícia Científica do Paraná, passou sete dias na linha de frente da identificação dos corpos resgatados no mar de lama e rejeitos em Brumadinho, Minas Gerais. Ela integrou uma força-tarefa paranaense que incluiu a geóloga Fabiane Acordes, dois agentes da Defesa Civil, bombeiros, viaturas e cães farejadores. O Paraná foi um dos primeiros estados a prestar apoio técnico e operacional para mitigar as consequências da tragédia que sacudiu o país.

Patrícia fez parte da equipe de peritos criminais que atendeu os primeiros dias do local do desastre. Todos os corpos e fragmentos de corpos retirados na primeira semana de trabalho passaram pelas mãos desta equipe, que foi sendo substituída por outros peritos na sequência.

O trabalho consistia no tratamento adequado dos corpos e vestígios que do entorno. Toda a documentação inicial tem início já nesta fase e se baseia em protocolos internacionais, cujo objetivo final é poupar tempo de trabalho na identificação realizada dentro do Instituto Médico-Legal (IML). O corpo é fotografado, há um croqui e todos os vestígios são devidamente documentados.

Ao mesmo tempo, os agentes da Defesa Civil participaram das reuniões estratégicas com os demais órgãos de investigação e resposta rápida e os bombeiros do Grupo de Operações de Socorro Tático (Gost), também do Paraná, apoiaram as equipes de busca ativa (aérea e terrestre), mapeamento dos locais das vítimas e intervenção direta para o recolhimento dos corpos. Uma equipe de bombeiros paranaenses segue em Brumadinho.

Segundo a perita, os principais obstáculos na operação montada em Minas Gerais foram a violência do impacto da lama sobre as vítimas e as dificuldades de resgate em função do volume de rejeitos sobre área muito extensa. Mesmo diante desses complicadores, Patrícia elogiou os protocolos de segurança seguidos pela força-tarefa interestadual e a estrutura disponibilizada para atendimento das famílias no IML, em respeito ao luto que cobriu a região.

De volta ao Paraná, a especialista considera que os protocolos do Estado num possível enfrentamento já estão de acordo com padrões internacionais e garante que todas as estruturas de segurança, prevenção e ação emergencial já estão conectadas há mais de cinco anos. Essa interligação começou a ser construída na instalação da Comissão de Identificação de Vítimas de Desastres do Paraná, da Polícia Científica, em 2013.

O governador Carlos Massa Ratinho Junior também solicitou que o Sistema Meteorológico do Paraná (Simepar) avalie a situação das 461 barragens existentes no território paranaense. Os trabalhos são monitorados pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Sustentável e Turismo.

Segundo o último balanço divulgado pela Defesa Civil de Minas Gerais, a tragédia de Brumadinho já soma 166 mortos (160 identificados) e 155 desaparecidos.

Confira trechos da entrevista com a perita criminal Patrícia Doubas Cancelier, da Polícia Científica do Paraná.

Como foi a integração das forças do Paraná em Brumadinho?
Fui requisitada para compor uma das equipes da Polícia Federal que trabalhou na identificação das vítimas, então o Paraná cedeu a minha força de trabalho para atuar no local do desastre. Fui para uma missão de sete dias e agora uma nova equipe chegou ao local. Eu já colaborava com a Polícia Federal em um grupo chamado DVI (Disaster Victim Identification – ou Identificação de Vítimas de Desastres) desde que ajudei a escrever o Manual de Perícias em Situações de Desastres em Massa da Polícia Federal.

Em que consistia o seu trabalho?
O órgão responsável pela identificação das vítimas da tragédia é a Polícia Civil de Minas Gerais. Mas vários estados e a Polícia Federal colaboraram com esse grupo. O trabalho de identificação é bastante extenso. Primeiro, há a fase de campo. A perícia precisa trabalhar ao lado do Corpo de Bombeiros para processar de maneira adequada os vestígios que possam levar ao reconhecimento. O protocolo de busca e recuperação de corpos da Interpol prevê que sejam tiradas uma série de fotos mínimas já no local, que seja elaborado um croqui da região onde o corpo foi encontrado e que os vestígios sejam direcionados de maneira adequada. Feito o trabalho inicial, os corpos, vestígios e documentos de busca e recuperação embarcaram nos rabecões até o IML de Belo Horizonte. No IML os corpos foram necropsiados. Além disso são extraídas informações como impressões digitais, coletadas amostras de DNA, e é realizado um exame odontológico minucioso da arcada dentária. Em paralelo, foram realizadas entrevistas junto aos familiares no intuito de colher informações que possam ser confrontadas de maneira lógica. O trabalho é concluído com a identificação da vítima e a entrega do corpo aos familiares.

Quais as principais dificuldades dessa operação?
Do ponto de vista da identificação humana esse foi um desastre bastante complexo pelo número de vítimas e pelo grau de fragmentação de alguns corpos. Além disso, o processo de identificação foi se dificultando ao longo do tempo pela demora na retirada das vítimas. Pela perícia, o número de corpos pode ultrapassar o número de vítimas porque os peritos contam uma parte do corpo, por exemplo, como uma vítima. Isso multiplica o número de exames, gerando uma complicação a mais na identificação humana. Além disso, o volume de lama é muito grande em uma área muito extensa, então faltam meses de trabalho para a retirada de todos os corpos.

Dá para apontar uma principal causa das mortes?
Até agora, a principal causa mortis é o politraumatismo. Isso mostra que a onda de lama teve um impacto muito grande sobre as vítimas. Algumas foram encontradas sem roupas, o que mostra essa violência. Algumas tentaram se esconder em um contêiner e ele foi encontrado todo retorcido. Por isso foi fundamental uma resposta rápida e técnica.

O que o Paraná tira de lição dessa tragédia?
O incidente de Brumadinho mostrou que a colaboração das partes técnicas é fundamental. Ele também mostrou que os protocolos que já tínhamos funcionam. Agora a intenção é aprimorar ainda mais os protocolos. As equipes têm tido muito sucesso na identificação das vítimas. Isso é importante para mitigar o sofrimento das famílias. Nós queremos assinar termos de compromisso com outros órgãos para ampliar essa cobertura no Estado do Paraná.

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