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Plantio direto poderá ajudar no fortalecimento da cultura de mandioca com recuperação de solo

Publicado em 27/09/2017 às 01:41

O plantio direto da mandioca não é apenas uma prática conservacionista, mas a garantia de continuidade da cultura na região. Não se trata simplesmente de evitar a erosão, mas de recuperar a fertilidade do solo. Na década de 80, colhia-se até 140 toneladas de mandioca por alqueire. Hoje a média é de 80 toneladas na mesma área. Estes números provam que a cultura da mandioca não está evoluindo, ao contrário, ela está involuindo.

A opinião é do técnico agrícola Claodemir Grolli, diretor técnico do Centro Tecnológico de Mandioca (Cetem) e assessor técnico do Sindicato Rural de Paranavaí, região onde está a maior plantação de mandioca para fins industriais.

O Cetem e o Sindicato (que representa a Federação da Agricultura do Estado do Paraná – FAEP) fazem parte de um grupo, que também tem a participação da Embrapa, Unioeste (campus de Marechal Cândido Rondon), IAPAR, Associação Brasileira de Amidos de Mandioca (ABAM)., Sindicato das Indústrias de Mandioca do Paraná (SIMP) e de empresas privadas, que trabalham há quase 10 anos em pesquisas para desenvolver a tecnologia do plantio direto para a cultura da mandioca na região.

Este sistema é uma técnica de cultivo em que o plantio é efetuado sem as etapas do preparo convencional da aração e da gradagem. O plantio direto mantém o solo sempre coberto, no caso da mandioca e algumas outras culturas, por resíduos vegetais. A palhada (restos de vegetais ressecados) forma uma cobertura que protege o solo do impacto direto das chuvas, do escorrimento superficial e das erosões hídrica e eólica, além de segurar por mais tempo a umidade. O plantio direto é mais barato também porque o preparo do solo limita-se ao sulco para o plantio. Os restos vegetais ainda formam uma adubação orgânica.

 “Temos problemas de perda de solo com a erosão, de fertilidade, porque as chuvas levam a areia e matéria orgânica e ainda a rotação de culturas entre mandioca e pastagem está cada vez mais defasado: a mandioca perde a produtividade e a pastagem não volta mais como antes. Sempre está mais deficitário”, diz o técnico agrícola.

SISTEMA RADICULAR - Para Claodemir Grolli é preciso que os produtores revejam antigos conceitos e até parem de tentar adaptar tecnologias de terra roxa de outras culturas para a mandioca.

Ele diz que o atual sistema de plantio, passando até duas vezes a grade pesada e depois o escarificador desagrega a camada superficial, onde está a fertilidade do solo. Ele defende que “deve-se evitar a movimentação do solo, que estará sempre coberto, com plantas que tenham sistemas radiculares agressivos, bem desenvolvidos. Assim a função da grade e do arador, no plantio direto, é feito pelo sistema radicular dos vegetais. O sistema garante a penetração da água e oxigênio”, explica.

A pastagem bem manejada, por exemplo, é uma boa cobertura de solo, porque as braquiárias têm um sistema radicular que atende as necessidades do plantio direto. No verão pode ser usado também o milheto e no inverno a aveia preta.

 “O plantio direto é hoje a melhor e talvez a única tecnologia que pode reverter este quadro de perda de solo, de fertilidade e, consequentemente de produtividade. Às vezes o produtor não maneja adequadamente o solo, não coloca calcário, não aduba e quer aumentar a produtividade”, diz ele.

Grolli explica que “tecnologia não deve se confundir com equipamento. Podemos plantar com tecnologia usando o enxadão”, adverte, contestando que é preciso altos investimentos para fazer o plantio direto.

CONTRATOS – Quando defende que produtores revejam antigos conceitos, Grolli se refere também aos contratos de arrendamento que são firmados entre pecuaristas e produtores, que fazem o que chamam de recuperação de pastagem, alternando gramíneas (pastagem) e mandioca. “Esta técnica já não está funcionando mais. A terra está exaurindo”, sentencia o técnico.

Grolli lembra que pelo atual sistema de arrendamento para somente uma safra provoca a seguinte situação: o proprietário (pecuarista) não investe na fertilidade porque vai ter que arrendar para recuperar as pastagens, e o produtor da raiz também não aduba porque vai devolver a terra assim que colher a mandioca.

Com contratos mais longos, o produtor vai investir na cultura e aderir ao plantio direto. Segundo Grolli, alguns produtores que conheceram a tecnologia estão aderindo a ela de forma gradual. E esta adesão deve ganhar impulso quando a Embrapa colocar no mercado variedades apropriadas para o plantio direto. “Todas as pesquisas são para variedade adaptadas ao plantio direto”, informa o assessor técnico do Sindicato.

As variedades disponíveis apresentam no primeiro ano de plantio uma redução de produtividade da ordem de 15 a 20%, que é compensada em boa parte pela redução dos custos do preparo de solo. Mas isto não tem desestimulados os produtores. Primeiro, porque esta redução já é prevista e, segundo, porque nas safras subsequentes, como apontam as pesquisas, a produtividade aumenta passando o plantio convencional.

“O caminho para garantir o futuro da cultura da mandioca é o plantio direto. Temos que se preocupar com a preservação do solo. A estrutura de mandioca instalada em Paranavaí e região é muito grande. Tem a quem vender. Então é preciso apenas aliar tecnologia com práticas  conservacionista”, finaliza Grolli.

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