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LUZ, CÂMERA, AÇÃO

Gosta de cinema? Confira a resenha de “As Nadadoras"

Nesta edição do quadro "Luz, Câmera, Ação", o professor e escritor Felipe Figueira traz um filme baseado em uma história real de duas irmãs refugiadas.

Publicado em 05/09/2023 às 10:45

(Foto: Reprodução/ Cena do filme "As nadadoras")

Nesta edição do quadro "Luz, Câmera, Ação", o professor e escritor Felipe Figueira fala sobre o filme “As Nadadoras".


Por Felipe Figueira

O filme “As Nadadoras”, dirigido por Sally El Hosaini, e estrelado pelas irmãs Nathalie e Manal Issa, conta a história de duas irmãs sírias, Sara e Yusra Mardini, que, em decorrência da Guerra Civil Síria, iniciada em 2011 e até hoje em curso, saem do país em 2015.

 A travessia das irmãs, acompanhadas pelo primo, Nizar Mardini, da Síria até a Alemanha, é terrível e longa. Da Síria à Turquia foram de avião; da Turquia à Grécia, de bote extremamente precário; da Grécia à Hungria, a pé, de carro e de ônibus; da Hungria à Alemanha, a pé e de ônibus.

Alguns detalhes: o pequeno bote não estava apenas com as irmãs, mas com dezenas de refugiados de outros países, como Eritreia, Sudão, Afeganistão e Somália, e o valor pago por esse transporte não era simbólico, chegando a dois mil dólares. Quanto às travessias na Europa, todo tipo de golpe lhes era aplicado, sempre com o objetivo de lucrar com a miséria alheia. Eis a fala de Sara: “Eu só pensava que mamãe e baba não sabiam onde estávamos. (...) E em como seria idiota nadadoras morrerem no mar.”

Eu, que estudo e acompanho a situação de refugiados há anos, em especial a dos venezuelanos, vi diversos traços em comum da história das irmãs com outros refugiados ao redor do mundo. Como criticava o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, tratam-se sempre de “estranhos à nossa porta”, isto é, de pessoas que geralmente não são bem recebidas, antes, são sumariamente rejeitadas; e, como dizia a pensadora Hannah Arendt, sendo que ela própria foi uma refugiada, os refugiados são aqueles que deixaram tudo para trás: família, amigos, língua, emprego, e, nisso, até se despersonalizaram. O cenário é trágico e desolador. Não há respostas prontas para esse complexo problema, exceto, talvez, algo apontado por Bauman: a necessidade de um verdadeiro diálogo.

Voltando ao filme. Após todas as dificuldades possíveis, Sara e Yusra Mardini chegam à Alemanha e são levadas a um centro para refugiados. Como elas eram nadadoras, treinadas com todo zelo pelo pai, um experiente nadador sírio, elas, em especial Yusra, a mais nova, vai atrás de um centro de treinamento em Berlim e, para a sua sorte, são recebidas pelo treinador Sven Spannekrebs (representado por Matthias Schweighöfer). As irmãs, então, passam a morar no centro de treinamento. A quem pensar “Eis um caso de quem quer consegue”, muito se engana, pois esse filme não se trata disso, de uma falsa meritocracia, mas de uma realidade dura e de uma situação que se converteu em exceção.

Yusra segue firme na natação, porém, a irmã mais velha toma outros rumos, ajudando outros refugiados que faziam a travessia entre a Turquia e a Grécia. Yusra, cujo sonho era participar de uma olimpíada, consegue marca para participar, em 2016, da Olimpíada no Rio de Janeiro, na primeira Equipe Olímpica de Refugiados. Na época, lembro-me desse episódio e fiquei feliz pela criação dessa equipe “especial”, afinal, acreditar que todos são iguais é desleal: a vida é mais do que a soma de um mais um.

Eu admito que é difícil encerrar um comentário sobre esse filme, pois o tema dos refugiados é por demais importante, um dos mais importantes do mundo, mas, tudo deve receber um ponto final (ou reticências). As minhas reticências são um convite: assista a esse belo filme e se abra ao que Bauman chamou de “diálogo”.


“As Nadadoras" está disponível no streaming Netflix, com classificação indicativa para maiores de 14 anos e duração de 134 minutos.


 

Felipe Figueira.

Luz, Câmera, Ação

Sou formado em História, Pedagogia e Direito, com doutorado em Educação pela Unesp de Marília e pós-doutorado em História pela Universidade Federal de Ouro Preto. Atuo como professor no Instituto Federal do Paraná, Campus de Paranavaí, e também sou escritor.

Felipe Figueira.

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